Case vencedor do Prêmio ECO 2017

A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, conhecida como Eco-92, teve um papel importante para incluir o tema ambiental na agenda das empresas e da mídia. Ainda assim, 25 anos depois, o desmatamento da Mata Atlântica cresceu 57% entre 2015 e 2016, o que representou o maior desmate no bioma dos últimos dez anos. Foram 29.075 hectares, o que equivale a mais de 29 mil campos de futebol.

 

Esses dados mostram a urgência de disseminar práticas de recuperação e preservação ambiental entre todos: governo, iniciativa privada e cidadãos. O papel da Olibi Azeites Artesanais, fundada em 2011, é demonstrar a viabilidade de integrar atividades agrícolas a projetos ambientais. Com base nos resultados da primeira safra comercial de azeite de oliva extravirgem e azeitonas em conserva, a estratégia já comprova sua efetividade.

 

O começo da história da Olibi Azeites Artesanais remete a 1999, quando o fundador Nélio Badauy Weiss plantou a primeira muda de árvore nativa da Mata Atlântica na fazenda Caminho do Meio, no município de Aiuruoca, no sul de Minas Gerais, região vizinha do Parque Estadual Pico do Papagaio, uma Área de Proteção Ambiental (APA). Até então a área exibia uma paisagem árida, resultado de queimadas e devastações do passado. As primeiras mudas foram plantadas próximas às minas de água e, aos poucos, semearam 18 hectares com mais de 15 mil árvores recompondo a biodiversidade dessa região da Serra da Mantiqueira.

 

Durante o plantio de árvores, Nélio percebeu a necessidade de resgatar a fauna local, especialmente os pássaros, que haviam deixado a região devido à falta de verde. Até mesmo o papagaio-do-peito-roxo, que dá nome à cidade de Aiuruoca (em tupi-guarani, significa “casa dos papagaios), estava ameaçado de extinção. Para reverter esse cenário, árvores frutíferas começaram a ser plantadas em 2001, a fim de atrair as aves.

 

Em 2007, a iniciativa ganhou mais força, com a aprovação de um projeto de soltura de aves em parceria com o Ibama. Desde 2007, os viveiros recebem inúmeras espécies de animais silvestres apreendidos de maus-tratos ou de comércio ilegal pelo Ibama e pela polícia florestal, principalmente aves. Ao chegar aos viveiros, os pássaros são examinados por um veterinário, recebem cuidados, o que pode incluir reparos nas asas e nos bicos, e são identificados com uma anilha.

 

Infelizmente, há casos mais graves em que os animais não têm mais condições de serem reintegrados à natureza, por isso a fazenda mantém um criadouro conservacionista dedicado ao cuidado permanente dessas aves. No entanto, mais de três mil aves foram soltas com sucesso na natureza, entre tucano, azulão, pássaro-preto, maritaca, canário-da-terra e o emblemático papagaio-de-peito-roxo, que voltou a ser visto no céu da região que vai de Aiuruoca até o Parque Nacional do Itatiaia. O projeto é acompanhado de perto pelas autoridades ambientais, garantindo que os animais voltem ao ecossistema de origem.

 

Há 20 anos, todo o trabalho – temporário ou fixo – realizado na fazenda Caminho do Meio conta com mão de obra local, estimulando a economia de Aiuruoca e disseminando as boas práticas realizadas entre a população. Além disso, estudantes da Escola Municipal Prof Maria José Ematne, localizada em Aiuruoca, acompanham a soltura de aves. O passeio é feito em parceria com a escola e com a secretaria municipal de educação, com o objetivo de mostrar, na natureza, o que os professores ensinam na sala de aula.

 

A fim de viabilizar a expansão dessas ações ambientais, o cultivo de oliveiras entrou em cena. Além de ser uma atividade econômica para financiar o projeto de recuperação e preservação do meio ambiente, a oliveira simboliza a integração com a natureza por ser uma árvore que não agride o solo e frutifica por muitos séculos, desde que regularmente cuidada. A longevidade das oliveiras aliada ao espírito preservacionista fez com que as primeiras mudas fossem plantadas em 2011.

 

A união de todas essas frentes – reflorestamento, soltura de aves e olivicultura – foi coroada com o lançamento do projeto Adote uma Oliveira, em janeiro de 2016, uma iniciativa inédita no Brasil. Os objetivos são possibilitar que mais pessoas participem de forma ativa de um movimento agroecológico e sustentável e abrir um caminho de financiamento dos elevados custos anuais das ações de reflorestamento, cuidado e soltura de pássaros.

 

Desde que o projeto Adote uma Oliveira foi implementado, a verba arrecadada viabilizou a plantação de mais 130 árvores nativas, além da manutenção das já existentes, a reintrodução de 312 aves de volta na natureza e o cuidado de 215 pássaros resgatados. Além dos números, a iniciativa pioneira evidencia que existem práticas agrícolas sustentáveis, que podem ser replicadas com diferentes culturas ao redor do Brasil. Essa é a filosofia do fundador: “Se não podemos transformar o mundo, começamos com as nossas próprias mãos ao nosso redor”, diz Nélio.

 

A grande missão do projeto Adote uma Oliveira é inspirar outras iniciativas em Aiuruoca, no sul de Minas Gerais, e também Brasil afora. Propriedades localizadas em diferentes biomas podem adotar ações que integram recuperação do meio ambiente e agricultura. A formatação de tais projetos e o convite à participação de pessoas físicas e jurídicas a investir na causa é uma forma de estimular a expansão de áreas reflorestadas, o que costuma demandar altos investimentos. Tais custos tendem a inibir potenciais reflorestadores.

 

Uma fazenda de cacau em Ilhéus, na Bahia, pode seguir em paralelo ao restauro de florestas da Mata Atlântica tanto quanto uma produção cafeeira em Brasília pode preservar o Cerrado. Desde o lançamento do projeto Adote uma Oliveira, pessoas de diferentes estados já entraram em contato para replicar a iniciativa, do Cariri, no Ceará, a Pinheiral, no Vale do Paraíba Fluminense.

 

Em escala menor e igualmente importante, moradores de Aiuruoca e região têm descoberto que a Cemig oferece gratuitamente mudas de árvores nativas para reflorestamento e se sentem encorajados a começar o plantio em pequenos espaços, além de se conscientizarem dos problemas do tráfico ou porte ilegal de animais silvestres. A educação ambiental começa com a sensibilização do público em relação às decorrências do desmatamento e da extinção de espécies da fauna brasileira.

 

Fazendas vizinhas também podem implementar projetos de reflorestamento, que certamente terão custos menores ao utilizar como referência a experiência na Fazenda Caminho do Meio. E, por que não, outras pessoas e ex-executivos de grandes empresas, como é o caso de Nélio Weiss, podem decidir aventurar-se por novas terras. Afinal, os objetivos da Olibi Azeites Artesanais e do projeto Adote uma Oliveira são estimular negócios sustentáveis que harmonizam com a comunidade.